domingo, 12 de janeiro de 2014

Fantasias de verão

     Num desses marços passados, em contraponto à festança por mais um aniversário da cidade, exercitei meu (discutível, eu sei ...) humor e lancei uma campanha pelo 'reconhecimento' de um outro Rio, o Rio que fica ao largo das praias e baía tão decantadas, o Rio de Osvaldo Cruz (um dos subúrbios mais feios dessa cidade), Inhoaíba, Irajá, Quintino e Paciência, para ficarmos apenas nesses exemplos. O 'Rio do B', como tomei a liberdade de batizar essa parte da cidade que não aparece em cartões postais mas que representa 80% de todo o nosso espaço físico.
     Retomo o tema. Não, como daquela vez, para exigir isonomia no tratamento (no fim, acabei aceitando ficar com as sobras do furdúncio patrocinado pela Prefeitura, no dia do aniversário da cidade). Não. Dessa vez, é para registrar minha inegável inveja com mais uma das maravilhas que estão prestes a serem instaladas no Rio Maravilha, o 'Rio do A'. Pois não é que o saltitante alcaide das praias e quetais inventou uma nova forma para disciplinar o estacionamento?
     Fiquei sabendo, pelo Globo, que está tudo quase pronto para o fim de uma das maiores pragas da cidade - de toda a cidade, não apenas da parte que sai nos jornais e tevês: o flanelinha, aquele achacador que pratica extorsão, ao exigir pagamento para que o infeliz motorista possa estacionar sem risco de ter o carro destroçado, ou roubado, por ele mesmo, ou asseclas.
     De um dia para outro, por decreto, esses personagens deletérios desaparecerão das ruas, substituídos por modernos totens eletrônicos, nos quais poderão ser pagas as taxas referentes ao estacionamento. Algo semelhante ao que acontece em Londres, Nova Iorque e outras capitais menos votadas do primeiro mundo. O motorista vai saber, até, onde há uma vaga disponível, bastando acessar seu telefone celular. Bastará baixar um programa, ou coisa parecida.
     Os flanelinhas oficiais já reagiram, com medo de perder mercado. Mas esses são os menos problemáticos. Eu quero ver o prefeito tirar da rua as quadrilhas de assaltantes travestidos de 'guardadores de carro', presentes em toda a parte, a qualquer hora. Na festa da passagem de ano, os jornais publicaram que esses cabras cobravam a módica tarifa de R$ 300 de todos os que se aventuraram a ir de carro para a Zona Sul. 
     Dizem as más línguas que esse dinheiro não vai todo para os bolsos desse bando. "É preciso dar o arrego do guarda", já ouvi, pessoalmente, argumentarem alguns desses posseiros de rua.
     Mas e os tais totens? Posso estar enganado, mas terão a duração de um sonho de uma noite de verão. Lá, no Rio do A, como cá, no lado B dessa cidade, as ruas continuam território livre para assaltantes de todas as tribos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário