segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Eterno peladeiro

     Eu já havia decidido que minha brilhante e profícua carreira de jogador de peladas estava encerrada. Quando optei por esse 'exílio dourado' em Pedra de Guaratiba, longe das quadras do condomínio onde passara 23 anos da minha vida, em Jacarepaguá, guardei os pares de tênis de futebol de salão bem no fundo do armário.
     Uma aposentadoria digna, capaz de deixar boas lembranças entre os que puderam acompanhar meus gols de calcanhar (uma especialidade), com os quais brindava minha filha mais nova, torcedora assídua dos meus jogos; e os dribles rápidos, tocando a bola entre as pernas de atônitos jovens que jamais esperariam tamanha ousadia de um veteraníssimo das quadras. Até hoje, passados 13 anos do meu último pontapé em uma bola.
     Não resisti - e ainda não sei se vou me arrepender dessa temeridade por muito tempo! - à insistência de um grupo de jovens amigos do curso de História da UFRRJ, a nossa Rural. Inscrito a 'forceps' no torneio de futebol de salão dos futuros historiadores, sucumbi, também, à convocação para um treino preparatório da equipe.
     O argumento, tenho que admitir, tinha alguma procedência: precisávamos dar um mínimo de estrutura à equipe. Ponderei, no entanto, que necessitávamos, sim, de muitos 'atletas', especialmente para ocupar a posição que, em tese, me caberia. E jamais tentar enfrentar o escaldante verão carioca. Como se poderia prever, alguns reservas faltaram e o treinamento começou sob o sol das 17 horas.
     Tenho que admitir, a bem da verdade, que o resultado não foi tão desastroso quanto previa, apesar de um esborracho na quadra, provocado pela mais absoluta falta de noção de espaço, perdida ao longo dos últimos anos. Um gol, um toque de calcanhar que bateu na trave, alguns passes inteligentes (confesso que a modéstia não é um dos meus atributos quando o tema é futebol) e preocupantes sinais emitidos pelos músculos adutores das duas coxas, responsáveis diretos pelo pedido de substituição e pelo sinal amarelo: minha escalação, amanhã, na estreia, está ameaçadíssima.
     Melhor assim. Se os sintomas se confirmarem e o bom-senso me tirar das quadras, certamente ficará a dúvida do que poderia ser. Se o time perder, então, restará uma questão ainda mais digna: "E se o Marco jogasse?".

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