domingo, 14 de dezembro de 2014

Entrega em domicílio

     A grande prova de que os tempos ‘mudam o comportamento das pessoas’ foi oferecida pelo entregador de dinheiro roubado da Nação, o homem da mala, responsável pela circulação da propina paga a políticos, em casa, em dinheiro vivo, notas que ele carregava coladas ao corpo. No Mensalão do Governo Lula, até então a maior bandalheira já vista no País, o então presidente da Câmara, o atual presidiário João Paulo Cunha, ex-deputado petista, apesar de sua projeção e importância na roubalheira institucionalizada, não contava com esse serviço personalizado.
     Tanto que precisou mandar a mulher – é isso mesmo, a ‘mãe de seus filhos’! – apanhar sua parte no roubo, diretamente no caixa de uma agência bancária que funcionava em Brasília. Ao saber que a mulher fora flagrada com a mão no cofre, João Paulo tentou o impossível: inventou que a esposa fora ao banco pagar a conta da televisão por assinatura. Teria sido a conta mais ‘barata’ do mundo, pois ela, além de não gastar um centavo, saiu com a bolsa recheada com R$ 50 mil.
     De sua cela no presídio da Papuda (ele ainda não conseguiu sair da cadeia, como seus comparsas petistas), imagino que João Paulo esteja excomungando os antigos operadores das vigarices governamentais. Se fosse nos tempos atuais, de petrocorrupção, poderia ter se livrado, ao menos, da vergonha de ter enviado a mulher para receber seu quinhão. O dinheiro chegaria em domicílio, como teria chegado – de acordo com as revelações do tal entregador – nas residências de altíssimos cardeais da nossa lastimável República, petistas e aliados de primeira hora, como o ex-presidente e atual senador Fernando Collor de Melo e a ex-governadora Roseana Sarney.
     Esse episódio do entregador de propina – revelado por Veja – evidencia o nível de canalhice que envergonha o país. E ainda não sabemos, oficialmente, os nomes dos políticos corruptos, beneficiários do assalto aos cofres da Petrobras. A partir da divulgação do conteúdo das delações premiadas que envolvem a quadrilha política, teremos a exata noção do tamanho da desfaçatez.
     E, pelo que vem surgindo, não haverá hipótese de cabeças coroadíssimas argumentarem com o desacreditado “eu não sabia”.


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