terça-feira, 16 de dezembro de 2014

A tragédia mal começou

    É evidente que a presidente Dilma Rousseff não pode simplesmente demitir a sua amiga Graça Foster do comando da Petrobras, em virtude da roubalheira abjeta que vem sendo exposta ao mundo. Só um completo idiota ou um vigarista ideológico poderiam (o plural, nesse caso, está correto) supor que a bandalheira surpreendeu os integrantes do poder central dessa devastada República.
     Não foram atos isolados de dirigentes vigaristas, decididos a encher os bolsos com dinheiro roubado do país. Houve – e isso está cada vez mais claro – um complexo esquema de desvio de recursos para contas bancárias do PT e de seus asseclas, incluindo, nesse rol, outros partidos da tal base que dá sustentação à pilantragem institucionalizada; políticos amigos e outros vagabundos em geral.
     Não é, ‘apenas’, uma questão de má-gestão. O escândalo que devasta a Petrobras apenas retrata o projeto criminoso desenvolvido nas principais esferas do poder, uma versão ‘sofisticada’ do que houve no Mensalão do Governo Lula, roubo desmascarado com relativa facilidade.
     Na bandalheira atual, o desafio era transformar dinheiro roubado em doações legais, através de um esquema relativamente simples: uma obra qualquer custa X; o governo paga X mais 30%; e a empresa repassa o ‘excedente’ na forma das tais ‘doações’ permitidas. Temos que admitir que a ideia era boa: um assalto dentro da lei. Nada do desacreditado caixa 2, versão que não ‘colou’ no Mensalão.
    Essa gente canalha não imaginava, entretanto, que um juiz inflexível e decente – o paranaense Sérgio Moro - resolvesse encarar o desafio que surgiu quase por acaso, durante uma investigação da Polícia Federal, a já famosa ‘Operação Lava-Jato’. Muito menos, que dois dos seus asseclas, o diretor petroleiro e o doleiro petistas, decidissem contar tudo o que sabiam, para escapar da cadeia, escaldados pelo exemplo do publicitário mineiro Marcos Valério, condenado a 40 anos de prisão.
     No Mensalão, Marcos Valério acreditou nas promessas oficiais de proteção e acabou ficando com a grande culpa. De todos os envolvidos, foi o mais castigado. Seus superiores na hierarquia do assalto à dignidade da Nação já estão por aí, livres, leves e soltos. Um deles sequer foi processado. Os ‘marcos valérios’ do escândalo da Petrobras, no entanto, preferiram contar tudo. E, aí, tudo desmoronou, ou está desmoronando.
     Os roubos começaram ainda em 2004 e se estenderam ao longo dos últimos dez anos. Durante todo esse tempo, a atual presidente esteve, de maneira direta ou diretíssima, ligada à Petrobras, aos projetos, investimentos, decisões políticas, opções, tudo. E, no mínimo, coonestou toda a pilantragem. Não teria, como não tem, condições morais de demitir sumariamente a presidente que colocou à frente da empresa.
     É um processo que exige muitas conversas, ajustes, garantias. Graça Foster não é um ‘joão-ninguém’, como o ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, que assumiu toda a culpa pelas pilantragens do Mensalão, para salvar a pele dos chefões (conseguiu livrar um deles, pelo menos). Isso ficou muito claro.

    E ainda não foram divulgados, oficialmente, os nomes dos políticos que recebiam sua parte da roubalheira em dinheiro vivo, na comodidade das suas casas. A tragédia está apenas no primeiro ato.

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