Carta aberta a uma jovem amiga que ponderou, delicadamente, como
sempre, se eu não deveria ter analisado os antecedentes, antes de ter condenado
vigorosamente a conduta do deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) em recente e
deplorável incidente. Como o questionamento foi apenas parcialmente público,
vou me reservar o direito de chamá-la apenas de B.
“Cara B. Eu conhecia o episódio protagonizado pela ministra
dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, há alguns anos. Já assistira à agressão
verbal que endereçou ao deputado Bolsonaro, chamando-o de “estuprador”, quando
ele exercia o direito constitucional de defender os governos militares, em uma
entrevista. Uma agressão que merece todo repúdio.
É evidente que ela extrapolou. Não me espantei na época. Não
me espantaria agora. Maria do Rosário é uma espécie de ‘Sininho com imunidade
parlamentar’, uma desajustada política, radical e estúpida como a maioria
absoluta dos seus (dela, é claro!) parceiros de partido, o PT. Se tivesse
vivido nos terríveis anos 1960 e 1970, certamente estaria entre os assaltantes
de banco que causaram a morte de dezenas de pessoas inocentes, argumentando que
estaria defendendo a democracia, algo que jamais esteve em consideração, nos
dois lados em conflito.
Ao longo de sua presença no Governo, essa militante petista
criou sérios embaraços à institucionalidade, ao estimular revanchismos que o
tempo e a concertação nacional já deveriam ter sepultado. Infelizmente, como
vimos recentemente, na divulgação do relatório da Comissão Nacional da Verdade,
ela não é a exceção nesse projeto de retaliação fora do tempo e em desacordo
com a vontade majoritária da nação.
No entanto – quase sempre há uma ressalva, quando o assunto
é tão polêmico -, mantenho minhas críticas, minha repulsa. Ao dizer que Maria
do Rosário não “merecia” ser estuprada, Bolsonaro admitiu, implicitamente, que
poderia merecer, caso fosse mais ... digamos ... ‘agradável ao olhar’. Ao exacerbar
a falta de encantos da oponente, Bolsonaro não foi apenas grosseiro e vil. Ninguém,
sob qualquer circunstância, merece ser vítima de uma agressão dessa magnitude.
O estupro é uma das mais graves violências que podem ser cometidas contra um
ser humano. É inconcebível, mesmo retoricamente.
Ao usar esse argumento, para provocar sua antiga desafeta, Bolsonaro
cruzou uma fronteira inadmissível. Necessariamente teria que pedir perdão pela
excrescência cometida. Se não diretamente a Maria do Rosário, a todas as pessoas
de bem desse país. Mesmo que não tenha tido a intenção de dizer exatamente o
que disse. Apenas argumentar com impropérios passados, ou com explicações para
o que de fato queria dizer, não é suficiente.
A atitude de Bolsonaro, nesse e em episódios passados, para
mim, é tão imprópria quanto os atos de devassidão protagonizados pela
quadrilha que vem assaltando os cofres e a dignidade do país há doze anos.
Espero que tenha explicado minha posição. Com o carinho que você merece.”
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