segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Carta aberta a uma jovem amiga

     Carta aberta a uma jovem amiga que ponderou, delicadamente, como sempre, se eu não deveria ter analisado os antecedentes, antes de ter condenado vigorosamente a conduta do deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) em recente e deplorável incidente. Como o questionamento foi apenas parcialmente público, vou me reservar o direito de chamá-la apenas de B.
     “Cara B. Eu conhecia o episódio protagonizado pela ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário, há alguns anos. Já assistira à agressão verbal que endereçou ao deputado Bolsonaro, chamando-o de “estuprador”, quando ele exercia o direito constitucional de defender os governos militares, em uma entrevista. Uma agressão que merece todo repúdio.
     É evidente que ela extrapolou. Não me espantei na época. Não me espantaria agora. Maria do Rosário é uma espécie de ‘Sininho com imunidade parlamentar’, uma desajustada política, radical e estúpida como a maioria absoluta dos seus (dela, é claro!) parceiros de partido, o PT. Se tivesse vivido nos terríveis anos 1960 e 1970, certamente estaria entre os assaltantes de banco que causaram a morte de dezenas de pessoas inocentes, argumentando que estaria defendendo a democracia, algo que jamais esteve em consideração, nos dois lados em conflito.
     Ao longo de sua presença no Governo, essa militante petista criou sérios embaraços à institucionalidade, ao estimular revanchismos que o tempo e a concertação nacional já deveriam ter sepultado. Infelizmente, como vimos recentemente, na divulgação do relatório da Comissão Nacional da Verdade, ela não é a exceção nesse projeto de retaliação fora do tempo e em desacordo com a vontade majoritária da nação.
     No entanto – quase sempre há uma ressalva, quando o assunto é tão polêmico -, mantenho minhas críticas, minha repulsa. Ao dizer que Maria do Rosário não “merecia” ser estuprada, Bolsonaro admitiu, implicitamente, que poderia merecer, caso fosse mais ... digamos ... ‘agradável ao olhar’. Ao exacerbar a falta de encantos da oponente, Bolsonaro não foi apenas grosseiro e vil. Ninguém, sob qualquer circunstância, merece ser vítima de uma agressão dessa magnitude. O estupro é uma das mais graves violências que podem ser cometidas contra um ser humano. É inconcebível, mesmo retoricamente.
     Ao usar esse argumento, para provocar sua antiga desafeta, Bolsonaro cruzou uma fronteira inadmissível. Necessariamente teria que pedir perdão pela excrescência cometida. Se não diretamente a Maria do Rosário, a todas as pessoas de bem desse país. Mesmo que não tenha tido a intenção de dizer exatamente o que disse. Apenas argumentar com impropérios passados, ou com explicações para o que de fato queria dizer, não é suficiente.  
     A atitude de Bolsonaro, nesse e em episódios passados, para mim, é tão imprópria quanto os atos de devassidão protagonizados pela quadrilha que vem assaltando os cofres e a dignidade do país há doze anos.
     Espero que tenha explicado minha posição. Com o carinho que você merece.” 

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