sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

A retórica da empulhação

     Eu tentei dar um descanso ao meu fígado, deixando de lado, por algum tempo, as pilantragens formais e retóricas dessa turma que está no poder há doze anos. Mas não consegui ignorar a frase da presidente Dilma Rousseff, na sua diplomação para mais um mandato, manchete da edição do Globo.
     Segundo o jornal, nossa principal mandatária promete “apurar com rigor” as bandalheiras na Petrobras.  Essa ‘promessa’ nada mais é do que um processo de vigarice retórica que já deveria ter sido banido da vida pública. Em primeiro lugar presidentes não mandam na Polícia Federal nem na determinação de um juiz digno, com o paranaense Sérgio Moro.
     Se, por infelicidade geral da Nação, a Justiça estivesse sob o domínio direto do atual governo, nenhum crime protagonizado por essa turma teria sido sequer alvo de uma leve curiosidade. É mentira – exatamente isso: mentira! – que haja qualquer intenção da presidente em aprofundar investigações, pelo simples fato de a bandalheira ter sido realizada por seus pares, companheiros de partido, de governo, de almoços fraternos, de festas de casamento.
     Caros, os bandidos estão no poder, de alguma forma, direta ou indiretamente. Quando um diretor da Petrobras confessa que os preços pagos a empreiteiras eram superlativados, quer dizer – como disse, textualmente – que a diferença, roubada do país, era transferida para o PT e seus parceiros de crime. Não há como escapar dessa realidade.
    A desfaçatez foi tão grande que gerou uma inesperada e duríssima reação do procurador-geral da República, que vinha se mantendo relativamente neutro até ser impactado pelo teor das delações premiadas. Que ninguém tenha dúvida: a abrangência do assalto à Petrobras e o destino do dinheiro sujo podem, sim, provocar uma devastação geral na cúpula política brasileira, comprometendo, inclusive, o mandato da reeleita Dilma Rousseff.
     Os nomes de políticos envolvidos na gatunagem são a maior evidência de que não interessa ao governo, sob qualquer perspectiva, estimular as investigações. O mais provável que esteja acontecendo, pelos rumores que são ouvidos há algum tempo, é exatamente o contrário: uma forte pressão para esvaziar as investigações, na qual – assim como nas eleições – ‘vale tudo’, incluindo tentativas de difamar o juiz Sérgio Moro.
     Essa mesma prática foi desenvolvida ao longo do julgamento do Mensalão do Governo Lula, até então o maior roubo institucional já registrado no país. O então ministro Joaquim Barbosa foi vítima de quadrilhas especializadas em difamar, além de sofrer ataques racistas. O ainda ministro Gilmar Mendes sofreu uma ameaça de chantagem, partida do ex-presidente Lula, segundo ele mesmo relatou, na época.
     A sujeira de agora, ao contrário do que houve no Mensalão, está muito bem documentada, pelos autores das denúncias, subordinados à quadrilha política liderada por nomes de ‘prestígio’ no PT, de acordo com os depoimentos que começam a ser esmiuçados. A permanência de Graça Foster à frente da Petrobras é outro indicativo da leniência oficial. Uma leniência que, ao que indicam as notícias, é provocada pela impossibilidade de dissociar o Governo das pilantragens.

     Não, a presidente Dilma Rousseff não pretende auxiliar na investigação. Afinal, essa investigação é a grande ameaça que paira sobre o futuro imediato do projeto de poder do qual ela faz parte.

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