quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Um exemplo alemão

     Veja recorre à Alemanha para nos contar, hoje, um caso exemplar. O ex-presidente Christian Wulff está sendo julgado pelo possível recebimento de favores de um produtor de cinemas, para o qual fez lobby, em 2008, quando ainda era governador de um estado. Ele teria aceito o pagamento da conta de um hotel, no valor de 700 euros, algo semelhante a R$ 2.200, quando esteve na Oktorbesfest de Munique. É isso mesmo: está sendo julgado porque alguém pagou sua diária.
     O cargo de presidente, na Alemanha, é algo apenas formal, sem os poderes que, de fato, são exercidos pelo chanceler. Mas normalmente reveste-se de um caráter ético, de reserva moral. O envolvimento de Wulff em situações semelhantes (houve outras acusações) gerou revolta da população. Já aqui no Brasil ...
     Por aqui, temos alguns quadrilheiros prestes a, finalmente, iram para a cadeia, depois de terem agredido e continuaram a agredir a Nação por palavras e atos inconcebíveis, mas com o apoio integral do Governo e do partido oficial desse mesmo governo. Lá, um ex-presidente pode ser preso por ter recebido uns trocados, indiretamente. Aqui, um ex-presidente escapou incólume da torrente de acusações sobre seu comportamento à frente e nas costas do País e seus seguidores chafurdaram em milhões.
     Ainda aqui, de maneira torpe, assistimos a um par de juízes da mais alta Corte assumirem o papel de advogados (comparsas, talvez?) dos mensaleiros petistas durante todo o julgamento e mesmo depois, ao abonarem as chicanas jurídicas perpetradas pelos mais caros escritórios de advocacia do país.
     De maneira também cínica, acompanhamos a um espetáculo de desfaçatez, protagonizado pelos condenados e/ou seus representantes. O ex-ministro José Dirceu, por exemplo, disse, através de seu advogado, que cumprirá a pena. Que bonzinho ... Como se fosse possível continuar espezinhando da Nação, como vem fazendo.
     Seu amigo de fé, irmão camarada, Luís Inácio Lula da Silva (aquele que escapou, primeiro, da cassação do mandato e, depois, do julgamento formal do crime) passou três horas reunido com a atual presidente e outros petistas e, ao sair do encontro, garantiu que não falaram sobre a prisão dos companheiros. Vocês acreditam nisso?
     Quanto à relativa 'concordância' demonstrada pelos bandoleiros petistas, em especial, ela deve-se, não tenho dúvidas, à esperança de que possam cumprir a pena fora da cadeia, pelo menos durante o dia. Na verdade - embora nossos 'analistas políticos' digam e escrevam o contrário, no regime semiaberto, a única regalia do preso é poder trabalhar, dentro do presídio, e não necessariamente fora dele.
     Quem apenas dorme na cadeia, onde passa os fins de semana, é o condenado em regime aberto. O benefício do trabalho eterno é concedido eventualmente, e não como rotina, como querem fazer entender os mensaleiros e seus amigos. No caso específico de José Dirceu e demais quadrilheiros, a presença na sociedade representa um risco à democracia, uma agressão à dignidade nacional.

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