segunda-feira, 23 de março de 2015

O obscurantismo é democrático

     Assisti hoje, meio por acaso, a uma reportagem da Globo News sobre a estúpida reação às vacinas em geral, provocada por deficiência cultural ou por atrofia ideológica. Em alguns casos, pela soma das duas. A contribuição que uma matéria sobre esse tema poderia dar à população foi diluída pela absurda necessidade de ouvir os ‘dois lados’, como se existem versões distintas e respeitáveis em temas que envolvem a aplicação da ciência.
     Não existem. Contrapor uma ‘médica homeopata’ e uma arquiteta que têm erros graves de concordância e de raciocínio lógico com um médico equilibrado e realidade é um desserviço, um ‘outroladismo’ que só explicita covardia intelectual e uma evidente determinação de ficar bem com todo mundo e, assim, ´preservar audiência.
     Reagir à vacinação, na segunda década do século 21, é algo tão extemporâneo que chega a ser agressivo, remetendo a um comportamento que poderia, até, ser entendido há um século, quando um Brasil essencialmente agrário e analfabeto ainda engatinhava na República e no fim da escravidão.
     É bem verdade que essa onda obscurantista não é exclusividade nacional, como – reconheço – mostrou a reportagem. Nos Estados Unidos, o número de crianças não-vacinadas, por opção dos pais, é assustador. Uma opção quase sempre alimentada por fundamentalistas religiosos, um mero sinônimo para ignorância, na minha ótica, ressalte-se.
     De qualquer modo, é inconcebível que um tema tão relevante seja tratado em uma ‘troca de ideias’ entre mães (a repórter e as entrevistadas), na qual cada uma dizia o que ‘achava’ do tema, despertado – hoje - pela reação isolada de alguns pais à aplicação da vacina contra o HPV em suas filhas adolescentes.
     Ao ver e ouvir – ninguém me contou! – uma ‘médica homeopata’ e uma arquiteta argumentarem sobre “interesses da indústria” para desqualificar a importância da vacinação, entendi claramente como é possível encontrar pessoas razoavelmente informadas e dignas apoiando o PT e seus asseclas, apesar da abundância de provas sobre a bandalheira. O obscurantismo também é democrático.



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