Um dos fatos que mais me espantam nessa fase
lastimável da vida nacional é o que poderia ser classificado de ‘conformismo’
com situações que normalmente seriam consideradas absurdas, inaceitáveis. O
noticiário de ontem, do Jornal Nacional, foi um exemplo dessa sensação. Ao
abordar as manifestações realizadas em Brasília, houve, naturalmente, um
merecido destaque para a participação de um grupo de índios, até mesmo em
função das imagens.
Afinal, assistir a um grupo de ‘guerreiros’
vestidos, pintados e armados para a guerra desfilar pelas avenidas da capital e
enfrentar policiais militares acionados para defender o patrimônio público é um
espetáculo absolutamente televisivo e, de certa forma, inusitado. As imagens, por
sinal, a essa hora, já devem ter percorrido o mundo e alimentado os comentários
sobre o clima nada favorável que os turistas estrangeiros encontrarão aqui,
durante a Copa. Em especial a de um policial sendo ‘flechado’ por um índio.
Exatamente isso: em 2014, na capital do mais
importante país sul-americano, um índio acerta um policial com uma flecha.
Ficamos sabendo, então, que o agressor foi detido, levado para uma delegacia e
... solto logo em seguida. Ponto final. Nenhum comentário ou discussão adicional
sobre o fato de alguém ferir intencionalmente uma autoridade investida no papel
de representante do Estado e ir para casa (ou uma oca, que seja) assistir à
novela das 9. Ninguém – apresentadores ou autoridades – demonstrou o menor
constrangimento com o fato, como se fosse absolutamente natural sair pelas ruas
alvejando policiais.
Na melhor das hipóteses, esse comportamento, que
eu chamei de conformista, passa uma mensagem perigosa de impunidade à sociedade:
a de que vale tudo, principalmente em anos eleitorais. Se um índio pode flechar
um policial que estava cumprindo ordem do Estado, sem maiores consequências,
tudo o mais é permitido.
Aliás, foi essa a mensagem que nossa
presidente passou há alguns meses, quando analisou os entreveros em épocas de
eleições, antecipando o que ela e seu partido fariam para se manter no poder:
em eleição vale tudo, ensinou Dilma Rousseff.
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