quarta-feira, 28 de maio de 2014

Vale-tudo institucional

     Um dos fatos que mais me espantam nessa fase lastimável da vida nacional é o que poderia ser classificado de ‘conformismo’ com situações que normalmente seriam consideradas absurdas, inaceitáveis. O noticiário de ontem, do Jornal Nacional, foi um exemplo dessa sensação. Ao abordar as manifestações realizadas em Brasília, houve, naturalmente, um merecido destaque para a participação de um grupo de índios, até mesmo em função das imagens.
     Afinal, assistir a um grupo de ‘guerreiros’ vestidos, pintados e armados para a guerra desfilar pelas avenidas da capital e enfrentar policiais militares acionados para defender o patrimônio público é um espetáculo absolutamente televisivo e, de certa forma, inusitado. As imagens, por sinal, a essa hora, já devem ter percorrido o mundo e alimentado os comentários sobre o clima nada favorável que os turistas estrangeiros encontrarão aqui, durante a Copa. Em especial a de um policial sendo ‘flechado’ por um índio.
     Exatamente isso: em 2014, na capital do mais importante país sul-americano, um índio acerta um policial com uma flecha. Ficamos sabendo, então, que o agressor foi detido, levado para uma delegacia e ... solto logo em seguida. Ponto final. Nenhum comentário ou discussão adicional sobre o fato de alguém ferir intencionalmente uma autoridade investida no papel de representante do Estado e ir para casa (ou uma oca, que seja) assistir à novela das 9. Ninguém – apresentadores ou autoridades – demonstrou o menor constrangimento com o fato, como se fosse absolutamente natural sair pelas ruas alvejando policiais.
     Na melhor das hipóteses, esse comportamento, que eu chamei de conformista, passa uma mensagem perigosa de impunidade à sociedade: a de que vale tudo, principalmente em anos eleitorais. Se um índio pode flechar um policial que estava cumprindo ordem do Estado, sem maiores consequências, tudo o mais é permitido.
    Aliás, foi essa a mensagem que nossa presidente passou há alguns meses, quando analisou os entreveros em épocas de eleições, antecipando o que ela e seu partido fariam para se manter no poder: em eleição vale tudo, ensinou Dilma Rousseff.



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