quarta-feira, 7 de maio de 2014

A aposta no tempo

     O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB de Alagoas) tentou e continua tentando bombardear a CPI criada para investigar a roubalheira institucional na Petrobras, o maior instrumento do esquema de poder que pretende se perpetuar no Brasil. Seguindo ordens expressas do Planalto, não desistiu da empreitada. Vencido o Plano A (impedir, simplesmente, a criação da CPI), o Governo apostou tudo no Plano B, na postergação, em jogar os debates para - pelo menos - depois das Copa.
     Até lá, haveria tempo para o tema despencar das manchetes, substituído inexoravelmente, pelas entrevistas vazias e simplórias do técnico da Seleção Brasileira, pelos gols de Neymar, pela esperada festa da vitória. Até lá, talvez dê tempo, até, de convencer o ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa, preso no Paraná, a ficar calado e assumir a culpa pelos desmandos, mais ou menos como fizeram o ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, e o publicitário mineiro Marcos Valério, no caso do Mensalão do Governo Lula.
     O desespero da turma palaciana é evidente e pode ser medido, também, pelo volume absurdo de publicidade oficial que vem sendo despejado nos meios de comunicação, atendendo a dois propósitos que se fundem: abafar o noticiário da pilantragem oficial e aquecer a candidatura da ainda presidente Dilma Rousseff, atingida pelos tímidos artefatos da oposição e pelas bazucas disparadas de dentro do PT e disso que se convenciona chamar de "base aliada".
    Algum desavisado que ligasse a televisão nos últimos dias poderia jurar, por exemplo, que nossa empresa mais relevante navega em mares de almirante, impávida, jogando dinheiro pelo ladrão (na verdade, vem sendo assaltada por ladrões), tal a quantidade de filmetes ufanistas. Seria difícil acreditar que o valor da Petrobras despencou, que foi vítima de uma sequência de atos danosos, que está aparelhada pelo partido dominante, que seu patrimônio vem sendo sucateado.
     Como se vivesse naquele mundo fantasioso dos anúncios,  nossa ainda presidente insiste no discurso medíocre de se apresentar como vítima de oposicionistas insensíveis, que usam a Petrobras para atingi-la. Logo a ela, que não sabia de nada. Distorce lastimavelmente os fatos, associando a divulgação das falcatruas divulgadas a uma espécie de comportamento de lesa-pátria.
     De maneira simplista, estúpida - exibindo o julgamento que faz do brasileiro -, o marketing palaciano tenta colar um rótulo de inimigos do país naqueles que exigem dignidade e não compactuam com a dilapidação dos bens públicos.
   


Nenhum comentário:

Postar um comentário