sexta-feira, 30 de maio de 2014

Retratos de uma época

     As comemorações oficiais (contidas, ou não) pela aposentadoria do ministro Joaquim Barbosa do Supremo Tribunal Federal são o retrato mais acabado dessa fase degradante da vida nacional. Petistas e assemelhados festejam, na verdade, a possibilidade de escaparem ilesos de prováveis novos julgamentos por suas recorrentes investidas contra os cofres e a dignidade públicos.
     Com Joaquim Barbosa no STF – não necessariamente na presidência -, essa gente sabe que haveria, sempre, uma palavra independente e de enorme peso político-institucional no caminho. Poucos homens públicos contam, hoje, no país, com a respeitabilidade emanada pelo ministro, com sua identificação com a parcela digna da sociedade.
     As reações de mensaleiros, de correligionários e de alguns ‘advogados’, em especial, mostram bem a que ponto de vileza pode chegar o ser humano. Ao festejarem a aposentadoria precoce de Barbosa, motivada oficialmente pelo acúmulo de problemas físicos, esses grupos de desajustados estão, de fato, contribuindo para o rebaixamento moral do país.
     Já não falo, sequer, das ameaças à vida e das agressões menos canalhas direcionadas ao ministro. Presumo que esse tipo de comportamento deletério não seja compartilhado por todos os que, de alguma forma, formem ao lado do esquema de poder em vigor. Lamento, no entanto, que não tenha lido ou escutado qualquer manifestação oficial de repúdio a essa escumalha corrupta e racista.
     Também não posso deixar de registrar e de lamentar o que nos espera num futuro bem imediato: dois dos mais importantes fóruns de defesa da constitucionalidade estarão nas mãos de dois ministros com um recente e preocupante desempenho. O Tribunal Superior Eleitoral, determinante nesse momento, já está sob a presidência do ministro Dias Toffoli. O STF ficará sob o comando do também ministro Ricardo Lewandowski.
     Ambos, como recordamos, se notabilizaram, durante o julgamento do grupo (não podemos mais falar em quadrilha) de corruptos que faziam parte do governo Lula, pela defesa intransigente dos acusados, em especial dos que faziam parte do esquema político. Seria absolutamente lastimável e perigo para o país que eles ignorassem a liturgia dos cargos.
    Mais do que a já enorme perda de Joaquim Barbosa, está em jogo a defesa da própria nacionalidade.

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