quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

O silêncio dos culpados, dos covardes e dos coniventes

     Quem me conhece há algum tempo e acompanha minhas ponderações sabe que não comungo com as teorias que imputam à Rede Globo, em especial, quase todas as mazelas da vida nacional, armações, conchavos. Vejo defeitos, distorções, mas também encontro algumas qualidades que não existem nas concorrentes. Por opção, não assisto à programação da tevê aberta, com uma rara exceção: o Jornal Nacional, basicamente nos dias em que o noticiário está mais intenso. No dia a dia, prefiro me informar em fontes mais variadas, graças às possibilidades abertas pela internet.
     Por isso, admito que posso estar cometendo uma leve injustiça com a Globo. O assunto talvez tenha sido tratado em algum momento dos últimos dias, mas jamais com a dimensão que merece. Estou me referindo às gravíssimas acusações feitas pelo ex-secretário nacional de Justiça, Romeu Tuma Júnior, ao PT, aos seus governos e aos seus mais destacados líderes, o ex-presidente Lula em especial, no seu livro Assassinato de reputações; um crime de Estado, lançado sexta-feira passada e repercutido pela revista Veja.
     Os assuntos tratados pelo ex-participante do primeiro escalão do Governo Lula são de uma gravidade tão grande que deveriam, sim, chegar, detalhadamente, ao conhecimento da maioria da população brasileira, que tem no JN a única referência, o único canal de informação. O silêncio acanhado da maior rede nacional é um atentado contra a democracia.
     Não se trata, apenas, do desabafo rancoroso de um delegado de polícia que se sentiu traído, ao ser acusado de envolvimento com a máfia chinesa de São Paulo e perder o cargo (ele foi inocentado de todas as acusações). São denúncias formais de alguém que esteve ligado diretamente ao poder, que conviveu com o presidente e ministros. Alguém que testemunhou atos de uma gravidade tamanha que seriam suficientes, em países decentes, para soterrar governos e políticos.
     Tuma Júnior conta, com detalhes, como o Governo Lula se empenhou em fabricar dossiês para destruir a honra de adversários políticos, sem descartar acusações sobre conivência de setores da Justiça paulista com integrantes do PSDB.
     As revelações alcançam inexoravelmente o ex-presidente Lula, apontado como informante do Dops paulista na época da ditadura militar. Tuma sabe do que está falando! O Dops era comandado por seu pai e Lula, como já escrevi aqui mesmo há alguns dias, seria uma espécie de 'cabo Anselmo de macacão', a pior espécie de gente.
     O ex-secretário nacional de Justiça também revisita um dos episódios mais nefastos da história petista: o assassinato do ex-prefeito de Santo André, Celso Daniel, que teria sido morto ao romper com o esquema de arrecadação de propinas cobradas de empresas de ônibus, para financiar o PT, no início dos anos 2000. O encarregado de transportar o dinheiro seria o atual ministro Gilberto Carvalho, segundo depoimentos formais dos irmãos do prefeito assassinado.
     O volume do lixo - como se pode avaliar - é enorme. Mas permanece praticamente oculto sobre uma capa de silêncio indecoroso. E não apenas dos meios de comunicação - exceção feita à Veja, como sempre -, mas também dos lastimáveis representantes dessa deplorável oposição, por covardia de enfrentar o 'mito Lula', ou medo de ser vítima dos respingos provocados pelas revelações.
     Por óbvio, os acusados também não falam no assunto. Uma ou duas vagas e já abandonadas promessas de processar o ex-companheiro de poder, e mais nada. O maior dos acusados, o ex-presidente Lula, como faz historicamente, mandou dizer que não vai comentar. Fez isso a vida toda, apostando na desinformação da população e na sua inegável capacidade de mentir, enganar, adulterar, tergiversar, embora não saiba exatamente o que essa última expressão significa.
     Trata-se, como se vê, de um somatório de silêncios: o misto de envergonhado e conivente dos meios de comunicação; o covarde, dos políticos oposicionistas que temem ser atingidos por revelações paralelas; e o dos culpados, essa gente inescrupulosa que assumiu o comando do país há onze anos.

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