sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Os defensores do crime

     Imaginemos o seguinte cenário: um repórter da isenta revista Carta Capital, por exemplo, consegue ter acesso ao depoimento oficial de um quadrilheiro sobre eventuais malfeitos de, digamos, Aécio Neves. As acusações, por força de um acordo de delação premiada, são necessariamente verdadeiras. O delator chega a detalhes, indica mais de cinquenta nomes, cita cifrões, tenebrosas transações através de bancos no exterior. Tudo documentado, com recibos.
     A matéria chega à redação e um dos editores, em nome de um código qualquer, resolve engavetá-la, para não prejudicar a campanha do candidato. É evidente que isso jamais ocorreria. Se tivesse esse material, a revista seria obrigada, por óbvio, a publicá-la. Se não o fizesse, seria, com justiça, acusada de favorecimento.
     Jornais e revistas não têm compromissos com partidos ou políticos. Seus únicos compromissos devem ser com o leitor, com o direito que a população tem de ser informada sobre fatos que podem ter significado na sua vida, como a possibilidade real de um ex-presidente e a atual presidente estarem envolvidos em falcatruas.
     Se um político não quer ser exposto, que mantenha a dignidade, que não crie uma rede de assaltantes dos cofres públicos, que não se associe a criminosos, que não se locuplete com o dinheiro público.
     Veja cumpriu com sua obrigação ao publicar, hoje, uma edição especial reproduzindo parte das canalhices do atual governo, segundo um de seus parceiros. Foi uma decisão tão coerente e digna que até mesmo o TSE, presidido pelo ministro Dias Toffoli, aquele mesmo que era empregado do PT, rejeitou o pedido petista de impedir a publicação, algo típico de gente que sonha com o ‘controle social da mídia’.
     Mais uma vez a revolta de alguns setores e pessoas – alguns ‘jornalistas’, lastimavelmente – não é com o roubo, com o assalto, com a devastação de empresas, com a degradação moral. Essas pessoas e entidades clamam contra a revista que publica a vagabundagem.

     Lamentavelmente, não há uma palavra sequer de repúdio ao loteamento da nação, ao aviltamento das instituições em nome de um asqueroso projeto de poder. 
     Condenam a divulgação. Defendem o crime. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário