Imaginemos o seguinte cenário: um repórter da isenta revista
Carta Capital, por exemplo, consegue
ter acesso ao depoimento oficial de um quadrilheiro sobre eventuais malfeitos
de, digamos, Aécio Neves. As acusações, por força de um acordo de delação
premiada, são necessariamente verdadeiras. O delator chega a detalhes, indica
mais de cinquenta nomes, cita cifrões, tenebrosas transações através de bancos
no exterior. Tudo documentado, com recibos.
A matéria chega à redação e um dos editores, em nome de um
código qualquer, resolve engavetá-la, para não prejudicar a campanha do
candidato. É evidente que isso jamais ocorreria. Se tivesse esse
material, a revista seria obrigada, por óbvio, a publicá-la. Se não o fizesse, seria, com justiça, acusada de favorecimento.
Jornais e revistas
não têm compromissos com partidos ou políticos. Seus únicos compromissos devem
ser com o leitor, com o direito que a população tem de ser informada sobre
fatos que podem ter significado na sua vida, como a possibilidade real de um ex-presidente e a atual presidente estarem envolvidos em falcatruas.
Se um político não quer ser exposto, que mantenha a
dignidade, que não crie uma rede de assaltantes dos cofres públicos, que não se
associe a criminosos, que não se locuplete com o dinheiro público.
Veja cumpriu com
sua obrigação ao publicar, hoje, uma edição especial reproduzindo parte das
canalhices do atual governo, segundo um de seus parceiros. Foi uma decisão tão
coerente e digna que até mesmo o TSE, presidido pelo ministro Dias Toffoli,
aquele mesmo que era empregado do PT, rejeitou o pedido petista de impedir a
publicação, algo típico de gente que sonha com o ‘controle social da mídia’.
Mais uma vez a revolta de alguns setores e pessoas – alguns ‘jornalistas’,
lastimavelmente – não é com o roubo, com o assalto, com a devastação de empresas,
com a degradação moral. Essas pessoas e entidades clamam contra a revista que
publica a vagabundagem.
Lamentavelmente, não há uma palavra sequer de repúdio ao
loteamento da nação, ao aviltamento das instituições em nome de um asqueroso
projeto de poder.
Condenam a divulgação. Defendem o crime.
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