segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Há um escândalo no caminho

     Em 1960, eu ainda era um moleque que corria atrás de pipas e jogava 'peladas' e bola de gude na rua de terra batida e sem rede de esgotos onde morava, em Marechal Hermes. É claro que ainda não votava. Se votasse, teria perdido: o 'nosso' candidato era o marechal Henrique Teixeira Lott, derrotado pelo desequilibrado Jânio Quadros, o homem da 'vassoura', que renunciaria pouco depois de ter superado a 'espada', símbolo da campanha de Lott.
     A partir da redemocratização, foram sete eleições, das quais perdi cinco, incluindo essa última. Só venci com Fernando Henrique Cardoso, em quem votei duas vezes e votaria quantas vezes fosse necessário. Em todas, mesmo 'derrotado', consegui abrir coração e mente, pensando no país, como um todo. Pelo menos no início das administrações. 
     Não vou mudar, agora. Não consigo torcer contra, embora tenha a absoluta certeza de que as perspectivas são as piores possíveis, especialmente em função do tsunami que vem por aí, com a ampliação das investigações sobre os escândalos na Petrobras, Correios etc.
     O volume de denúncias contra os principais nomes do governo que acaba de se reeleger tende, segundo a maioria dos observadores, a paralisar o país nos próximos meses. Se o Mensalão do governo Lula provocou a crise institucional que quase derrubou o ex-presidente e jogou na cadeia seu primeiríssimo escalão, as denúncias do ex-diretor da Petrobras e do doleiro oficial do PT devem devastar a base da atual e próxima dirigente.
     Com um agravante: se o cliente do Bolsa Família, segundo Lula, pensa que dossiê é um "doce de batata doce" (vejam como ele é preconceituoso e reducionista), os cinquenta milhões de eleitores que optaram pelo candidato da oposição sabem exatamente o que significa o esquema de corrupção sobre o qual se assenta o projeto de poder que vige há doze anos.
     PS: Para ser exato. Eu já estava por aqui nas duas eleições anteriores à que consagrou Jânio, um sujeito que espalhava caspas  falsas no paletó e puxava sanduíches de mortadela do bolso, para se parecer com o 'povo' (qualquer semelhança com o maior demagogo da nossa história não é, como estamos vendo, coincidência). E, embora não soubesse, 'venci' ambas: em 1950, com a volta de Getúlio Vargas; em 1955, com Juscelino. Mas a primeira eleição que me marcou foi a de 1960. Lembro, até, que ganhei uma espadinha para pendurar na camisa.
     PS2: Para quem não lembra, ou não tem paciência para ir ao Google, Lott, 'embora' marechal (o posto foi suprimido da carreira militar, que acaba em general de exército), foi o candidato de uma coligação liderada pelo PTB de Jango, Brizola etc. Jânio era da UDN de Lacerda, Magalhães Pinto e outros. Ex-ministro do Exército, era um legalista e assegurou a continuidade do governo de Juscelino, ameaçado por duas insurreições (a mais grave foi a de Aragarças, envolvendo alguns oficiais da Aeronáutica). Naquela época, votava-se separadamente para presidente e para vice. Jânio ganhou, mas foi obrigado a carregar o vice do PTB, João Belchior Marques Goulart, que acabou assumindo o poder com renúncia do presidente, mas não resistiu ao golpe de 1964. Histórias ...

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