Não tenho a menor dúvida de que as Forças Armadas – o Exército
em especial – estão cometendo um erro gravíssimo ao tentarem negar um fato que
o tempo tornou incontestável: houve, sim, atos deletérios – tortura, em síntese
- em quartéis. Ao não reconhecerem esse momento lastimável de sua história, as
Forças Armadas, ao contrário de defenderem seu passado, municiam os que não
aceitam a paz concertada através da Lei de Anistia.
A admissão de culpa em eventos nefastos, mesmo que sob a
capa do desconhecimento oficial do que ocorria nos ‘porões da ditadura’, é uma
imposição dos novos tempos, sem que, paralelamente, represente a negação de sua
atuação institucional, mesmo durante os anos de arbítrio.
A luta em campo aberto, os enfrentamentos, até podem ser
defendidos, desde que abstraídos julgamentos maniqueístas. O terror de Estado,
no entanto, é indefensável. Tenho certeza que militares que se orgulham de sua
função jamais concordariam com espancamentos e tortura de presos sob sua tutela.
Colocar uma jovem nua em uma cela escura, acompanhada por uma cobra, é, em si,
um ato abominável.
Essa postura, que venho expondo ao longo de muitos anos,
teria, como efeito imediato, o desmonte de um processo de manipulação de fatos
e mentes que atinge, essencialmente, as novíssimas gerações, e, ao mesmo tempo,
facilitaria o caminho para a verdade (uma só), para a reconciliação efetiva.
Não haveria, com a verdade absoluta, espaços
para negaças, de um lado, nem para discursos que mergulham no mais profundo
poço de incoerências, de outro.
Ficaria difícil, por exemplo, a anacrônica
aparição de um ex-comandante da Aliança Libertadora Nacional (ALN) em um fórum
universitário¹ no qual, sem o menor pudor, o antigo guerrilheiro (anistiado e
indenizado!!!), além de pregar a desordem e o vandalismo como instrumentos de
luta política, confessou, orgulhosamente, o assassinato de algumas pessoas, entre
elas o presidente do grupo Ultra, Henning Albert
Boilesen (1916-1971), que era acusado de arrecadar dinheiro entre empresários
para financiar a Operação Bandeirantes – Oban.
E acabou aplaudido, como se fosse um herói.
¹ Semana Acadêmica de História,
na UFRRJ.
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