segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Em nome da verdade

     Não tenho a menor dúvida de que as Forças Armadas – o Exército em especial – estão cometendo um erro gravíssimo ao tentarem negar um fato que o tempo tornou incontestável: houve, sim, atos deletérios – tortura, em síntese - em quartéis. Ao não reconhecerem esse momento lastimável de sua história, as Forças Armadas, ao contrário de defenderem seu passado, municiam os que não aceitam a paz concertada através da Lei de Anistia.
     A admissão de culpa em eventos nefastos, mesmo que sob a capa do desconhecimento oficial do que ocorria nos ‘porões da ditadura’, é uma imposição dos novos tempos, sem que, paralelamente, represente a negação de sua atuação institucional, mesmo durante os anos de arbítrio.
     A luta em campo aberto, os enfrentamentos, até podem ser defendidos, desde que abstraídos julgamentos maniqueístas. O terror de Estado, no entanto, é indefensável. Tenho certeza que militares que se orgulham de sua função jamais concordariam com espancamentos e tortura de presos sob sua tutela. Colocar uma jovem nua em uma cela escura, acompanhada por uma cobra, é, em si, um ato abominável.
    Essa postura, que venho expondo ao longo de muitos anos, teria, como efeito imediato, o desmonte de um processo de manipulação de fatos e mentes que atinge, essencialmente, as novíssimas gerações, e, ao mesmo tempo, facilitaria o caminho para a verdade (uma só), para a reconciliação efetiva.
     Não haveria, com a verdade absoluta, espaços para negaças, de um lado, nem para discursos que mergulham no mais profundo poço de incoerências, de outro. 
     Ficaria difícil, por exemplo, a anacrônica aparição de um ex-comandante da Aliança Libertadora Nacional (ALN) em um fórum universitário¹ no qual, sem o menor pudor, o antigo guerrilheiro (anistiado e indenizado!!!), além de pregar a desordem e o vandalismo como instrumentos de luta política, confessou, orgulhosamente, o assassinato de algumas pessoas, entre elas o presidente do grupo Ultra, Henning Albert Boilesen (1916-1971), que era acusado de arrecadar dinheiro entre empresários para financiar a Operação Bandeirantes – Oban.
     E acabou aplaudido, como se fosse um herói.

¹ Semana Acadêmica de História, na UFRRJ.





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