terça-feira, 22 de julho de 2014

O exemplo mexicano

     Uma das notícias mais lidas hoje, na edição on line de O Globo, tem, para mim, um irresistível cheiro do Brasil dessa lastimável era iniciada há doze anos. É a história de um político mexicano que acaba de ser eleito prefeito de uma cidade da costa do Pacífico depois de ter assumido, publicamente, que roubara, sim, quando exercia um mandato anterior.
     Mas roubara “só um pouquinho”, como explicou aos eleitores que ouviam seu discurso, que foi gravado, tornou-se viral nas redes sociais e transformou-se rapidamente em um escândalo, por escancarar um fato que, segundo o tal candidato, era comum: “Criticaram porque gosto muito de dinheiro. E quem não gosta?”, questionou, desafiadoramente.
     As declarações foram feitas no dia 8 de junho, segundo a reportagem. Um mês depois, seu autor festejou uma eleição fácil (recebeu 40% dos votos) distribuindo notas de peso entre as pessoas que encontrava na rua, a caminho da solenidade de posse.
     Qualquer semelhança com o escândalo do Mensalão do Governo Lula e com todos os demais que se seguiram, em todos esses anos, não é coincidência. Flagrado com as mãos, pés e roupas íntimas em investidas nos cofres públicos, o grupo que domina o poder não apenas venceu duas eleições, mas está prestes a, no mínimo, disputar com grandes chances mais uma corrida pela Presidência.
     A aposta mexicana – na ignorância, na tolerância à corrupção, na troca de interesses, na distribuição de dinheiro e benesses – não difere, na essência, da exercida aqui, onde os nossos dirigentes se utilizam da chantagem mais deplorável, ao explorarem a miséria da população acenando com bolsas, distribuídas não como instrumentos de governo, mas de um partido.

     Lá, como cá, nem mesmo a comprovação do assalto aos bens públicos foi suficiente para soterrar pretensões políticas que, em países menos simplórios, seriam sepultadas inexoravelmente.  

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