quarta-feira, 30 de julho de 2014

Histórias de vizinhos

     Pensamentos soltos.
     Sabe aquele vizinho marrento, que ostenta, troca de carro de seis em seis meses e só veste a família com roupas de grife? Pois é. Gastou o que tinha e, principalmente, o que não tinha. Na hora de pagar as contas, estava pendurado até o pescoço e ameaçado de ter que devolver tudo o que comprara sem ter recursos e, para piorar, vender a casa que recebera de herança.
     Desesperado saiu batendo de porta em porta, pedindo dinheiro emprestado. Para convencer que tinha tomado jeito e que iria pagar tudo, dentro de um tempo combinado, acenou com a assinatura de promissórias. Conseguiu o dinheiro, quitou algumas dívidas, mas não se emendou: voltou à vida de esbórnia.
     Até que chegou o dia combinado para o pagamento. Os vizinhos que fizeram o empréstimo e o salvaram da falência apresentaram as notas. Com a desfaçatez que se imaginava superada, o sujeito disse que não tinha como honrar o compromisso. No máximo, pagaria uma parte: era pegar ou largar. Alguns pegaram, para evitar o prejuízo total. Outros, que não eram tão amigos (na verdade, eram conhecidos dos amigos), botaram pé firme e exigiram tudo o que havia sido combinado.
     Foi uma gritaria. O vigarista começou a gritar para toda a vizinhança que estava sendo explorado, na expectativa de conseguir apoio. Afinal, sabia que morava perto de outros golpistas. O apoio chegou, como era imaginado, mas não atemorizou os cobradores. O vigarista estava desmascarado. Vai ter que rebolar para não ficar até sem a roupa do corpo.

     Outra história de vizinhos.
     Seu Macieira já não aguentava mais aquela situação. Estava cansado de pedir ao vizinho que tomasse conta dos gatos, que pulavam o muro, invadiam sua casa e causavam enormes problemas. O quintal amanhecia cheio de cocô e seus canários belgas já não podiam mais ficar na varada, para evitar as investidas dos felinos.
     A situação, ao invés de melhorar, só piorava. Certo dia, bastou uma ligeira distração e um dos gatos roubou a carne que ele havia separado para o almoço. Novas ponderações, reclamações.
     Até que a paciência de Seu Macieira se esgotou: um dos gatos, o mais abusado de todos, conseguiu driblar sua atenção, atacou as gaiolas e matou justamente o canário de canto mais melodioso.
     Dessa vez ele não bateu na porta para ponderar. Foi na quitanda da esquina, comprou dois pacotes de chumbinho e preparou uma lauta refeição para os invasores. Não sobrou um para contar a história. O vizinho esperneou, fotografou os gatos agonizantes e pediu o apoio de grupos militantes.

     Seu Macieira limitou-se a um “eu avisei que não iria suportar mais as invasões, roubos e mortes”.

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