quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

O ranking da ignomínia

     As cenas lamentáveis a que assistimos na Câmara, antes durante e depois da ‘eleição’ dos membros da comisso de Justiça que vai julgar a admissibilidade do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff, refletem exatamente o momento político-institucional que vivemos. Talvez não tenhamos tido um conjunto de fatos tão desprezíveis na história recente da nossa principal (pela amplitude do seu alcance) Casa de ressonância de desejos, anseios e espírito da sociedade brasileira.
     Não há justificativas para o comportamento absolutamente incivilizado de dezenas de representantes do povo, sem distinção de matiz partidário, mas capitaneados – e isso ficou evidente nas imagens vergonhosas espalhadas pelo país – pelo Partido dos Trabalhadores e seus satélites. O destempero (para usar uma expressão suave, amena) da deputada gaúcha Maria do Rosário, ex-ministra e uma educadora por origem, exibe por inteiro o nível rasteiro da nossa representação.
     Gritos, xingamentos, agressões físicas e uma inusitada ocupação das cabines de votação por partidários da tropa de choque (alguns são da turma do cheque) governamental deram a dimensão do abismo institucional no qual estamos sendo jogados. Não há debates de ideias ou projetos. Há apenas e tão-somente uma exibição espúria de violência, ignorância, intolerância e desrespeito às instituições, entregues ao comando de desqualificados políticos, como os responsáveis pela gestão dos três poderes.
     O que poderíamos esperar de um Congresso liderado pelo senador Renan Calheiros (PMDB-AL) e pelo deputado federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ)? E de um Supremo Tribunal Federal aparelhado partidariamente, que tem no topo alguém como o ministro Ricardo Lewandowski, que sequer pode dar um passeio em um shopping? E, quase acima de todos (não podemos esquecer a presença ignominiosa do ex-presidente Lula), pairando num mundo irreal (surreal, talvez), a presidente da República, Dilma Rousseff, uma catástrofe ambulante, um tsunami de incoerências, motivo de chacota no mundo, incapaz de articular pensamentos simples, quanto mais um projeto de país.
     País que, por conta da obsessão desenfreada pelo poder, a qualquer custo, de petistas e assemelhados, vive momentos incontroláveis, de insegurança institucional. A possibilidade de impeachment da presidente é apenas um símbolo dessa quadra de desatinos, marcada pelos maiores escândalos da história republicana brasileira, em todos os níveis administrativos, em todos os patamares públicos e privados.
     Não por acaso, estamos, nós, o Brasil, participando de uma espécie de ‘olimpíada’ da vergonha, como retrata, hoje, o jornal O Estado de São Paulo. O estratosférico escândalo na Petrobras, investigado pela Operação Lava Jato, está entre os finalistas do concurso promovido pela Transparência Internacional – entidade que combate a corrupção no planeta – e que vai escolher o maior deles, o mais simbólico, o de maior repercussão, o mais canalha.

     É nesse ranking da ignomínia que fomos jogados pelo esquema que se apossou do poder há 13 anos, democraticamente, é verdade. E que, desde então, vem agindo sistematicamente para construir um projeto de eternização, financiado pelos saques aos cofres públicos, energizado pelo achaque a grandes empreiteiras. Um projeto que, ao fim, visa a devastar as recentes e ainda tênues conquistas dessa mesma democracia.

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