quarta-feira, 4 de junho de 2014

Ameaça à democracia

     A relativíssima reação ao decreto da presidente Dilma Rousseff que cria uma tal de ‘Política Nacional de Participação Social’ é preocupante. Com as exceções de sempre (Veja e alguns líderes da oposição), o tema não vem fazendo parte da pauta de discussões, atropelado – como certamente previa o Governo – pelo noticiário que envolve a Copa do Mundo. A ocasião – tenho que reconhecer - não poderia ter sido mais bem escolhida.
     Poucas pessoas estão preocupadas com a enorme ameaça às instituições representada pela criação de espécies de conselhos populares que teriam voz ativa na administração pública, definindo prioridades e políticas. Admito que, à primeira vista, essa ‘participação’ pode ser encarada como saudável, democrática. Basta um minuto de reflexão para constatar que a essência do decreto, ao contrário, agride os princípios de representatividade.
     Por um motivo simples: os ‘conselhos’ serão formados por – adivinhem? – integrantes de movimentos sociais, um evidente eufemismo para mascarar uma realidade: mais poder, ainda, à companheirada, que, na prática, usurparia parte dos poderes do Legislativo. E não importa, nessa discussão, que nossos representantes legais deixem a desejar. O processo de intermediação entre anseios populares e o Executivo cabe a eles, e não a algumas dessas ‘ongs’ que sobrevivem sugando os cofres públicos.
     E se eu tivesse, por acaso, alguma dúvida em relação à ameaça oculta nessa ‘companheirização’ da política pública, bastaria saber que um de seus defensores mais intransigentes é o ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria Geral da Presidência. Nada, rigorosamente nada, que tenha seu – dele, Carvalho - apoio atende a propósitos democráticos.

     Num país mais crítico de si mesmo, alguém com o histórico do ministro mais poderoso do atual Governo estaria condenado ao ostracismo, ou, eventualmente, a penas mais duras. Basta mergulhar, mesmo superficialmente, no lastimável episódio do assassinato do prefeito Celso Daniel, de Santo André (SP), em 2002, um caso que continua provocando pesadelos no PT.

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