sábado, 7 de junho de 2014

O apelo à demagogia

     Para quem viveu, como eu, os anos da ditadura e, como eu, conviveu com o apelo ao que eu classifico de ‘patriotismo de botequim’, ao “ame-o ou deixe-o”, a comparação com o recorrente “nunca antes nesse país” que vem sendo impingido à população nos últimos quase doze anos é inevitável. A essência é a mesma, exposta na postura de únicos intérpretes da vontade nacional.
     Acossado pelo desencanto popular com a precariedade absoluta dos serviços públicos e imprensado pelos números cada vez mais desastrosos das pesquisas de opinião, o Governo vem investindo, sem o menor constrangimento moral, nessa velha e deplorável tática de classificar adversários e críticos como inimigos da Pátria, como um todo, e da ‘pátria de chuteiras’, em especial, nos últimos dias.
     De maneira coordenada e pensada pelos marqueteiros sempre de plantão, a ainda presidente Dilma Rousseff, em solenidade de campanha no Sul do País, insistiu mais uma vez nessa toada destinada a desqualificar todas as manifestações de insatisfação, não apenas aquelas que extrapolam os limites legais. De maneira torta, tenta misturar sentimentos que podem, sim, conviver.
     Exigir dignidade dos governantes e responsabilidade no trato da coisa pública são comportamentos que jamais podem ser confundidas com uma atitude de desapreço à Seleção Brasileira, aos símbolos nacionais, como o Governo pretende fazer crer.
     É possível torcer por vitórias em todos os campos, com a mesma determinação. Ao dizer que nem mesmo quando estava presa deixou de torcer pela Seleção – como fez ontem -, nossa presidente apela ao discurso mais medíocre, fuleiro, demagógico e populista.

     É evidente – e ela sabe disso – que a maioria absoluta da população vai torcer pela Seleção, como sempre fez. Esse sentimento não está em discussão. A grande novidade surgiu quando o brasileiro decidiu questionar não sua paixão pelo futebol, seus atletas, ou equipe, mas a propriedade de gastos públicos exorbitantes com um projeto secundário (a Copa), num país tão carente de tudo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário